“No primeiro dia da criação, criou Deus o Céu, e a Terra, e os Elementos, e é certo em boa Filosofia que não ficou nenhum vácuo no Mundo, tudo estava cheio. Com isto ser assim, e parecer que não havia já lugar para caber mais nada, ao terceiro dia vieram as ervas, as plantas, e as árvores, e com serem tantas em número, e tão grandes, couberam todas. Ao quarto dia veio o Sol, e sendo aquele imenso Planeta cento e sessenta e seis vezes maior que a terra, coube também o Sol; vieram no mesmo dia as Estrelas tantas mil, e cada uma de tantas mil léguas, e couberam as Estrelas. Ao quinto dia vieram as aves ao ar, e couberam as aves; vieram os peixes ao mar, e com haver neles tantos monstros de disforme grandeza, couberam os peixes. No sexto dia vieram os animais, tantos e tão grandes à terra, e couberam os animais; finalmente veio o homem, e foi o homem o primeiro que começou a não caber; mas se não coube no Paraíso, coube fora dele.”
(Padre António Vieira, Sermão da Primeira Dominga do Advento, pregado na Capela Real, em 27 de Novembro de 1650, in Sermões do Advento, do Natal e da Epifania, ed. José Eduardo Franco e Pedro Calafate, Temas e Debates, 2015, p. 151.)