Adoro as laranjas de umbigo.
Toda a gente sabe (folgo com esta expressão) que as laranjas vieram da China, como sugere de passagem Leonard Cohen na sua Suzanne. Mas há as laranjas e há as laranjas de umbigo. Estas é que são. Ora sucede que os amigos brasileiros pensam que as laranjas de umbigo de todo o mundo são originárias da Baía, onde uma variedade importada de Portugal — a Selecta — terá sofrido, no início do século XIX, uma mutação acidental. Uns americanos, escrevendo em 1917, dizem que isso aconteceu em Cabula, um bairro da Baía (ou Bahía, como prefiro) e que o português proprietário da árvore terá disseminado a variedade umbílica (ver imagem anexa). A maioria dos americanos, na sua proverbial ignorância, acredita por seu lado que a laranja de umbigo, a que por lá se chama Washington Navel (O Umbigo de Washington), foi desenvolvida na California.
Sorriamos benevolentemente, caros compatriotas. Porque a gloriosa laranja de umbigo originou-se, não na Bahía ou na California, mas na decadente Europa, e provavelmente em Portugal. O italiano Giovanni Baptista Ferrari mostra já, numa esplêndida obra de 1646, ilustrada por grandes artistas, como Nicolas Pussin e Guido Reni, e intitulada Hesperides, sive de malorum aureorum cultura et usu, uma ilustração de uma laranja de umbigo de origem portuguesa, e a que chama ‘Aurantium femina, sive foetiferum’. Aurantius é o latim para laranja (de Aurum=Ouro) e foetiferum quer dizer frutífero(a). Frutífera, logo feminina.
Seja como for, portuguesa ou brasileira, longa vida à laranja! E, em especial, à variedade com umbigo ou com filhotes, a laranja-mulher, a melhor.