Uma característica das democracias representativas é o facto de os políticos serem escolhidos, não pelos seus pares, mas pelas massas, ou mais exactamente pelo que deveríamos chamar A Massa. Veja-se o caso português: entre nós o Presidente da República é eleito por mais de metade dos cidadãos que em cada acto eleitoral vão até às urnas, uma mole inquietante de três milhões de almas, ou algo perto disso. Da mesma maneira, a escolha do chefe do governo exige quase sempre uma maioria de eleitores nos distritos eleitorais, um número que, somado, não será inferior a dois milhões. Para sinecuras menos imponentes, por exemplo os municípios ou as freguesias, os votos necessários não são tantos, mas ainda assim constituem uma pequena multidão, quer dizer, são também massa. Mais de dez mil na minha pequena Bila, quinhentos ou um milhar nas aldeias espalhadas pelas serranias. Continuar a ler
António Costa
Sobre as heras trepadeiras
9. Qualquer tipo de hera tem raízes múltiplas e espessas, entrelaçadas umas nas outras, lenhosas, grossas e não demasiado profundas; estas são características em particular da negra e das variedades mais rudes e mais selvagens da branca. Por isso prejudica todas as árvores da vizinhança, porque, ao roubar-lhes a nutrição, as destrói e faz secar. É sobretudo esta variedade a que ganha grossura e se arboriza, tornando-se uma hera arborizada independente; porque, em geral, a hera procura encostar-se a outra árvore, e tende a ser parasita.
10. Logo desde o início tem também esta particularidade natural: a de, a partir dos rebentos, projectar sempre, no meio das folhas, raízes, que lhe permitem agarrar-se às árvores e aos muros, como se a natureza as tivesse formado com esse propósito. Eis porque, ao extrair e consumir a seiva, ela seca aquela a que se agarra, que, se se cortar pela base, consegue resistir e sobreviver. Apresenta ainda uma outra diferença não despicienda quanto ao fruto que, tanto na branca como na negra, ora é adocicado, ora extremamente ácido. Prova disso é que as aves consomem um e o outro não. Eis o que há a dizer sobre a hera.
Teofrasto, História das Plantas, III: 18.9-10.