Fecharam-nos o café da Avenida, na nossa triste Bila. De repente, sem aviso prévio, sem nos darem tempo a protestarmos ou a procurarmos solução. Uma noite ele lá estava, como sempre, a generosa porta aberta, a televisão discreta à esquerda de quem entra, a empregada brasileira pronta a servir-nos o café com um copo de água bem gelada, as fotografias de oleiros espalhadas nas paredes, a lembrar-nos que a vida é dura e frágil como uma pichorra de loiça negra de Bisalhães. Na noite seguinte, a porta cerrada, sem uma nota explicativa. Fechado. Foi uma oferta irresistível, dizem-nos mais tarde; um café a menos, uma hamburgueria a mais.
Para mim, não é demasiado grave, há mais dois cafés nas redondezas, com tv e futebol. Não fumo, posso encostar-me num qualquer lugar com uma reserva mediana de oxigénio e pouco barulho. Mas para o meu amigo A., que fuma compulsivamente — quatro maços de Marlboro em cada dia — faz toda a diferença. Andámos por ali umas noites vagabundas, sem achar um rumo, como marinheiros à procura de taberna em porto hostil. Lá acabámos por arribar a um, numa rua mais acima, onde estamos desde então. Mas não é a mesma coisa: ruidoso, com uma tv sempre a bombar a bola, uma música de blues repetitiva, que nos põe febris e pessimistas e desestimula a cavaqueira, clientes alienos, de outros tempos e de outras freguesias, e uma tiragem de fumos mais do que suspeita e que nos deixa os olhos irritados e a garganta áspera.