Caros,
Neste ano novo parece-me importante oferecer aos nossos governantes um punhado de sugestões para executar nos próximos tempos. Tudo isto no melhor dos espíritos cívicos, que é, como sabem, um dos meus pequenos vícios. Nesse sentido, aqui lhes deixo [a eles, governantes, mas também a vocês, gente humildíssima que por aqui passa] um breve artigo de Theodore Dalrymple, o qual pode ser lido, no elegante inglês original, no livrinho de 1994 intitulado If Symptoms Persist.
Cá vai, então:
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É uma verdade universalmente reconhecida que algo tem de ser feito sobre o assunto. E segue-se que, se algo tem de ser feito, então pode ser feito.
Uma vez que a actividade é tão boa como a acção, a primeira coisa a fazer é constituir uma comissão. O objectivo desta comissão será garantir à Autoridade de Saúde que pode garantir ao Ministério que pode garantir ao Ministro que pode garantir ao Governo que pode garantir à Oposição que algo está de facto a ser feito.
A comissão ideal deverá ter pelo menos os seguintes membros: um consultor hospitalar, um especialista em saúde pública, um polícia, um membro do clero, um terapeuta ocupacional, um técnico de reinserção social, um técnico de serviço social, um autarca, um fisioterapeuta, um representante das agências de voluntariado, um juiz e um proeminente homem de negócios da comunidade. Isto garantirá que a comissão não conseguirá reunir mais do que uma vez em cada quatro meses, e mesmo então só depois de uma longa série de justificações das ausências.
O tema das deliberações da comissão deverá ser vago, mas importante: o álcool é um bom exemplo. Como todos sabemos, o álcool é responsável por acidentes, homicídios, suicídios, cirrose, cancro, doenças do coração, derrames cerebrais, divórcios, crime e falências, bem como por 95 por cento da alegria em ocasiões sociais e por uma proporção considerável, embora menor, das receitas do governo. É, portanto, um candidato perfeito para a estratégia de inacção-através-da-actividade, e de facto actualmente cada autoridade de saúde regional tem uma Comissão de Acompanhamento e de Coordenação Regional para o Alcoolismo, que procura manter em respeito a tendência para o excesso de indulgência face ao álcool, funcionando ao mesmo tempo como uma prenda governamental aos zelotas que acham que uma vida longa e saudável é necessariamente uma vida feliz.
Fui temporariamente nomeado há uns tempos atrás para uma dessas comissões. De tantos em tantos meses lá ouvíamos um inspector ler lugubremente as estatísticas das agressões em estado alcoólico desde a reunião anterior, o que era normalmente seguido por uma descrição de um Assassinato Particularmente Horrível e Brutal Cometido sob Influência. Fazíamos um tch-tch de desaprovação profunda e até abanávamos a cabeça.
Tudo na comissão seguia suave e serenamente quando, de repente, a autoridade de saúde nos deu 20000 libras para gastar. Isto era muito mais do que poderíamos honestamente justificar em consumo de sandes, e a pessoa directora da comissão (seria impróprio mencionar o sexo dela) entrou em pânico. Não restava outra alternativa a não ser fazer um inquérito.
Mas o que queríamos nós descobrir?
Nada nos veio à cabeça.
Decidimos apelar a uma firma de consultoria. Os seus serviços custavam 12000 libras, e uma secretária em part-time garantiu que gastaríamos um pouco mais do que o disponível, um sinal seguro da nossa diligência. O dinheiro terá sido gasto, algo terá sido feito, e o relatório da consultoria terá pelo menos umas vinte páginas.
