Lana Turner teve um colapso!
Ia a passo rápido pela rua e de repente começou a chover e a nevar
e tu disseste é granizo
mas o granizo bate forte na cabeça por isso realmente era neve e chuva e eu
estava com tanta pressa
para ir ter contigo mas o tráfego
agia exactamente como o céu
e de repente vejo uma parangona
LANA TURNER TEVE UM COLAPSO! não há neve em Hollywood não há chuva na California
fui a muitas festas
e portei-me perfeitamente uma desgraça
mas nunca tive de facto um colapso
oh Lana Turner nós gostamos tanto de ti levanta-te
Frank O’Hara
DESCRIÇÃO AUTÊNTICA DE UMA CONVERSA COM O SOL EM FIRE ISLAND
Está na altura de voltar aqui, talvez por causa do Sol e do calor e das férias que se avizinham. E nada mais apropriado que com este poema de Frank O’Hara, um dos meus poetas favoritos.
DESCRIÇÃO AUTÊNTICA DE UMA CONVERSA COM O SOL EM FIRE ISLAND
O Sol despertou-me esta manhã alto
e claro, dizendo “Ei! Estou há quinze
minutos a tentar acordar-te. Não sejas tão
mal-educado, és apenas o segundo poeta
que eu escolhi para falar pessoalmente
portanto porque é
que não te mostras mais atento? Se eu pudesse
queimar-te através da janela fá-lo-ia para te
acordar. Não posso ficar por aqui o dia todo.”
“Desculpa, Sol. Mas fiquei
ontem até tarde a conversar com o Hal.”
“Quando eu acordei o Mayakovsky ele foi
bem mais lesto”, disse o Sol com petulância.
“A maioria das pessoas já está a pé à espera
de ver se eu vou aparecer.”
Tentei
desculpar-me “Senti a tua falta ontem.”
“Assim está melhor” disse ele. “Eu não
sabia que hoje irias aparecer.” “Deves estar
a pensar porque me cheguei tão perto?”
“Sim” disse eu começando a sentir-me quente
pensando se ele não estaria talvez a
queimar-me mesmo assim.
“Francamente queria
dizer-te que gosto da tua poesia. Vejo muito
nas minhas andanças e tu és fixe. Podes não ser
a maior coisa sobre a terra, mas és diferente.
Bem, ouvi dizer a alguns, que são na minha opinião
demasiadamente calmos, que eras maluco, e outros
poetas loucos pensam que és um reaccionário
chato. Não eu.
Limita-te a continuar
como eu e não ligues importância. Descobrirás
que as pessoas sempre se queixarão da atmosfera,
que está quente demais, ou frio demais ou
demasiado claro ou demasiado escuro,
dias demasiado curtos ou demasiado longos.
Se não apareces um dia
inteiro pensam que és preguiçoso ou que estás
morto. Continua como és, eu gosto.
E não te preocupes com a tua linhagem
poética ou natural. O Sol brilha na selva,
sabes, na tundra, no mar, no gueto. Onde
quer que estivesses, eu sabia e via-te andar.
Eu esperava-te para ir para o trabalho.
E agora que fazes
os teus próprios dias, por assim dizer,
mesmo que ninguém te leia só eu não te
sentirás deprimido. Nem toda a gente pode
olhar para cima, mesmo para mim. Faz-lhes
doer os olhos.”
“Ó Sol, estou-te tão grato!”
“Obrigado, e lembra-te que eu estou a ver-te.
É mais fácil para mim falar contigo
aqui. Não tenho de escorrer
entre os prédios para te chamar a atenção.
Sei que adoras Manhattan, mas devias sair
mais vezes.
E sempre abraçar coisas,
gente terra céu estrelas, como eu faço, livremente
e com o sentido próprio do espaço. Essa é a tua
inclinação conhecida nos céus e deverás
segui-la até ao inferno, se necessário,
o que eu duvido. Talvez falemos
de novo em África, da qual eu também
gosto em especial. Volta agora para a cama
Frank, vou deixar um poeminho
nesse teu cérebro como despedida.”
“Sol, não vás embora!” Estava desperto
por fim. “Não, tenho de ir, eles chamam-me.”
“Quem são eles?”
Erguendo-se disse “Um dia
saberás. Também te estão a chamar a ti.”
Escuro ergueu-se, e então dormi.
Frank O’Hara 1958