Já encontrámos o polícia Navajo Jim Chee por aqui às voltas com uma águia. Agora é com um gato. Na realidade Navajo, e em geral entre os povos tradicionais, os animais não são — ao contrário do que tendemos hoje a pensar na nossa deriva ‘anti–especista’ — pessoas apenas um pouco mais pequenas, como se ser um humano ou ser um animal fosse apenas uma questão de grau, e os animais uns humanos mais inocentes e mais próximos da pureza essencial. Com ‘direitos’ que reconhecemos e protegemos, como os ‘direitos’ das crianças. Não, para os Navajos os animais são exactamente isso mesmo: animais, ou seja, seres outros, cada um deles um habitante de um plano da existência distinto do humano. Diferentes de nós. E, porque diferentes de nós, seres que existem a uma distância que os faz mais respeitáveis e mais dignos de consideração. Como aliás sucede no mundo humano, a distância é a marca da importância e da dignidade: quanto mais importante é o homem, mais distante ele é. O gato desta estória ganha importância, isto é, ganha distância. Mesmo que, como se verá, pareça a dado momento encurtá-la. Mas isso é só uma ilusão.
O texto que vão ler é retirado da novela de Tony Hillerman, Skinwalkers. A tradução é, como quase sempre neste blogue, da minha responsabilidade.